sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Amebíase intestinal e extra-intestinal


Doenças infecciosas que afetam o intestino são vistas com muita preocupação pelos órgãos de saúde em todo mundo, pois, podem dar origem a danos severos e, às vezes, irreversível aos indivíduos infectados. A amebíase é uma patologia que se enquadra nesse tipo de doença infecciosa, porque seu agente etiológico, a Etamoeba histolytica, habita o intestino grosso de humanos e animais. Este parasita, que se locomove por emissão de pseudópodes e se reproduz assexuadamente através da divisão binária, se alimenta fagocitando detritos de alimentos presentes na luz intestinal, grãos de amido e, preferencialmente, hemácias. A fagocitose deste último item é o que faz a Etamoeba histolytica ter um relativo grau de patogenicidade, além de diferenciá-la das outras espécies de amebas. Então, o indivíduo contaminado com o parasita em questão corre o risco de desenvolver sérias complicações em seu organismo, pois, para se alimentarem hemácias, as amebas originam pequenas lesões na mucosa intestinal, se essas lesões se agravam, as amebas podem entrar na corrente sanguínea e danificar seriamente outros órgãos do hospedeiro.

A relação entre o parasita e o hospedeiro, na maioria das vezes, ocorre de forma pacífica, na qual ambos se beneficiam ou pelo menos não se destroem. O mesmo acontece na relação entre a Etamoeba histolytica e seu hospedeiro. Estima-se que existam 480 milhões de pessoas contaminadas em todo mundo, contudo, apenas em 10% dessas pessoas o parasita torna-se mais virulento, mais ativo e invasivo, provocando manifestações dos sintomas da amebíase. Através dos sintomas, podemos sugerir o nível de invasão da Etamoeba histolytica. Uma das formas clínicas mais comuns em nosso meio é a amebíase intestinal com colite não-disentérica, que se manifesta através de duas a quatro evacuações, diarréicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco ou sangue. Pode apresentar também, cólica ou desconforto abdominal e raramente há manifestação febril. Outra característica da amebíase intestinal com colite não-disentérica é a intermitência entre a fase de manifestação da patologia e a fase de funcionamento normal do intestino.

A forma disentérica da colite amebiana é outro tipo de infecção, causada pela Etamoeba histolytica, que acomete o intestino grosso. Nessa forma, o parasita é muito mais invasivo e ataca a mucosa intestinal, provocando ulcerações. Nas úlceras, o parasita encontra um ambiente melhor que na luz intestinal e mais propício ao seu desenvolvimento e reprodução. Em alguns casos, ocorre resposta do sistema inflamatório e migração de neutrófilos para os locais de ulceração (leucocitose e neutrofilia), onde esses granulócitos tentam atacar as amebas. A ação dos neutrófilos pode ter como conseqüência a formação de piócitos, que saem nas fezes, ou, pode provocar úlceras granulomatosas, com a degranulação do seu conteúdo citoplasmático. A colite amebiana disentérica ocorre de forma mais aguda e o indivíduo acometido pode apresentar dor intensa na região abdominal, tenesmo e tremores de frio, devido a perfurações no intestino. Além disso, pode apresentar também, mais de oito evacuações por dia, com fezes mucopiossanguinolentas, e quadro de desidratação e hemorragia.

Como nada pode ser tão ruim que não possa ficar pior para o hospedeiro, a Etamoeba histolytica pode invadir a submucosa intestinal e entrar em contato com a corrente sangüínea. Neste local, a ameba encontra um ambiente, com alimento em abundância, totalmente propício ao seu desenvolvimento e reprodução. Do sangue, ela pode chegar ao fígado através da circulação porta-hepática. O fígado é o principal alvo da amebíase extra-intestinal, nele a ameba forma abscesso hepático, podendo provocar necrose coliquativa. Os sintomas apresentados por indivíduos com amebíase extra-intestinal são representados pela tríade: febre, dor intensa na porção superior direita do abdome (hipocôndrio direito) e hepatomegalia. Aliado a isso, o hospedeiro pode apresentar calafrios, anorexia e perda de peso. A Etamoeba histolytica pode não se contentar em parasitar apenas o fígado e, ainda na corrente sangüínea ou por extensão, pode invadir outros órgãos do hospedeiro como pulmões, tegumento e, mais raramente, o cérebro. Esse evento é mais raro, mas quando ocorre, o indivíduo contaminado pode sofrer alterações irreversíveis em suas estruturas, chegando ao óbito. A passagem de bactérias provenientes do intestino grosso para a corrente sangüínea através das ulcerações é outra complicação relacionada à amebíase extra-intestinal, bactérias podem atingir vários órgãos do corpo e produzir uma infecção sistêmica - sepse.

Pelo exposto acima, vimos que infecções intestinais, como a amebíase, são doenças que apresentam risco muito elevado para os indivíduos contaminados, visto que, além de comprometerem o trato intestinal, podem expandir para outras partes do corpo e trazer consigo outros microorganismos. Para que haja uma diminuição dos casos, é necessária a ação conjunta entre a comunidade e os órgãos públicos de saúde, com o intuito de prestar informações e esclarecimentos, aos indivíduos suscetíveis, sobre os riscos de contaminação relacionados à falta de higiene pessoal e na preparação do alimento e precárias condições de saneamento de água e esgoto. No caso da amebíase, se faz necessário, também, o diagnóstico dos portadores assintomáticos, pois são eles os principais disseminadores dos cistos de Etamoeba histolytica, formas infectantes, que saem nas fezes formadas. Além disso, a transmissão pode ocorrer através da ingestão de água e alimentos contaminados, através do sexo anal-oral e através de insetos, como formigas e moscas, que trazem cistos grudados em suas patas e têm a capacidade de regurgitar os cistos ingeridos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS

NEVES, D. P & Cols. Parasitologia humana. Ed. Atheneu, 11a ed, 2005. 495 pp.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Mudar? Pra que?"

Introdução
A mudança adaptativa é uma característica de todos os seres vivos. Pois, de certa forma, entre eles existe uma interdependência. As relações entre indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de espécies distintas são formas de manifestação dessa interdependência. O parasitismo é um tipo de relação interespecífica, na qual o parasita expressa uma dependência metabólica e estrutural do hospedeiro. Assim sendo, tanto o parasita quanto o hospedeiro têm que sofrer uma co-evolução, para minimizar os prejuízos que atingem ambos os elementos associados e permitir, em geral, que ambos vivam em equilíbrio e propaguem a espécie.
Visão Tradicional da relação Parasita-Hospedeiro
Teorias tradicionais afirmam que, com o decorrer do tempo, a relação entre o parasita e o hospedeiro vai se encaminhando para uma co-adaptação que resultaria em uma relação comensal, na qual parasita e hospedeiro viveriam em relativa harmonia, com um dependendo do outro para sobreviver. Para que isso ocorra, o parasita teria que atenuar seu grau de virulência. Permitindo que o hospedeiro sobreviva e evitando a extinção de ambos.
Essas co-adaptações estão relacionadas diretamente a alterações no código genético, tanto do parasita, quanto do hospedeiro. Ocorre uma comunicação bi-direcional entre as comunidades parasitárias e os sistemas adaptativos do hospedeiro (sistema imunológico, sistema nervoso e sistema endócrino), envolvendo ativação mútua de genes, bem como a troca de genes entre o anfitrião e o micróbio (TOSTA, 2001). Portanto, essa troca natural de informações genéticas é o que proporciona o equilíbrio da relação parasita-hospedeiro. Além de ser um dos fatores que contribuem para a diversidade, a adaptação e a co-evolução.
Visão Moderna da relação Parasita-Hospedeiro
Mas, existem teorias mais recentes, baseadas na medicina Darwinista, afirmando que a virulência do agente patológico é determinada pela relação entre os benefícios e custos associados ao aumento da exploração do hospedeiro, ou seja, a virulência é determinada pelo processo de conversão dos recursos do hospedeiro em produção e propagação de novos patógenos. Com esse pensamento, temos que a virulência , como uma vantagem evolutiva, depende do ciclo de vida natural do agente etiológico, da sua forma de transmissão e do tipo de reprodução, visando sempre a disseminação da espécie (STRUCHINER et. al., 2003)
Parasitas, como o agente etiológico da malária (Plasmódium), que são transmitidos por vetores artrópodes (insetos), relativamente, tem alto grau de virulência, pois para propagarem, necessitam da debilidade e falta de locomoção por parte do hospedeiro. O hospedeiro imóvel, provavelmente, será picado por insetos que, facilmente, disseminarão o parasita para outros indivíduos.
O mesmo grau de virulência é necessário aos parasitas, como o agente etiológico da cólera (V. cholerae), que tem a água como vetor. Além da virulência acentuada, é preciso também uma alta capacidade de reprodução, porque os organismos infectantes podem sofrer diluição na água. Para superar esse problema, a população de parasitas tem que ser muito densa e altamente virulenta. Aliado a essas características, o meio ambiente tem que apresentar precárias condições sanitárias. Com esses dois fatores associados, os parasitas têm grande possibilidade de contaminar outros indivíduos suscetíveis.
Já parasitas que são transmitidos da forma hospedeiro-hospedeiro ou hospedeiro-fômite-hospedeiro, como os do gênero Rhinovirus que causam o resfriado, não necessitam de alto grau de virulência. Pois o hospedeiro debilitado não pode disseminar os patógenos, que saem para contaminar os outros indivíduos durante os espirros e a coriza. Portanto, o grau de virulência mais baixo seria uma vantagem evolutiva neste caso (GIORGIO, 1995).
Conclusão
De acordo com o que foi exposto nas duas teorias, a co-adaptação existe para um melhor equilíbrio na relação parasita-hospedeiro. Os tradicionais interpretam a virulência como um estágio primitivo da evolução. E sugerem que a co-adaptação leva ao comensalismo. Enquanto isso, os Darwinistas vêem a virulência como uma característica evolutiva inerente a algumas espécies de parasitas. De fato, há evidências da coexistência dessas duas realidades. Logo, a relação pode evoluir para que o equilíbrio ocorra na forma de um comensalismo, ou, em alguns casos, há a possibilidade desse equilíbrio ser caracterizado por situações de relativa virulência para o hospedeiro.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
NEVES, D. P & Cols. Parasitologia humana. Ed. Atheneu, 11a ed, 2005. 495 pp.
GIORGIO, Selma. Moderna visão da evolução da virulência*. Departamento de Parasitologia, Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Campinas, SP - Brasil, 1995.
TOSTA, Carlos Eduardo. Coevolutivas Redes: uma nova estratégia para a compreensão das relações dos humanos com os agentes infecciosos. Vol: 96. (3), 415-425. Rio de Janeiro, 03 de abril de 2001.
FORATTINI, Oswaldo Paulo. O pensamento epidemiológico evolutivo sobre as infecções. Rev Saúde Pública 2001;36(3):257-62, 257. www.fsp.usp.br/rsp.
STRUCHINER, Claudio José; CODEÇO, Claudia; CARNEIRO, Mauricio. Bases Evolutivas da Saúde Pública, 21/06/2003. HTTP//:www.people.fas.harvard.edu~carneirlecturesbespbesp_intro.pdf. Visto em 11/02/2011, ás 22:59.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

...Parasitologia Humana, Parasitismo e Doença Parasitária...

Entendemos Parasitologia Humana quando correlacionamos o ciclo de vida dos agentes etiológicos, os fatores biológicos, culturais e econômicos do homem e o ambiente em que eles coabitam.
O parasitismo é uma associação entre organismos de espécies distintas, na qual se observa uma unilateralidade de benefícios, uma associação íntima e duradoura e uma dependência metabólica de grau variado. Esse fenômeno ocorreu quando, na evolução da simbiose, um organismo menor se sentiu beneficiado, quer pela proteção, quer pela obtenção de alimento. A partir de então, essa associação inter específica, que na maioria das vezes é desarmônica, tornou-se indispensável à vida de várias espécies.
Com alta capacidade de adaptação ao organismo do hospedeiro, o parasita tornou-se cada vez mais dependente dele. Essas adaptações ocorreram a níveis morfológicos como: degenerações representadas por perda ou atrofia de órgãos locomotores e aparelho digestivo; e biológicos como: aumento da capacidade reprodutiva, diversas maneiras de reprodução (hermafroditismo, partenogênese, esquizogonia e poliembrionia), capacidade de resistência à agressão do hospedeiro (presença de antiquinase, que é uma enzima que neutraliza a ação de sucos digestivos sobre numerosos helmintos e capacidade de induzir uma imunossupressão) e tropismo (desenvolvimento em um local específico, órgão ou tecido, mediante atração quimiotática).
Já a doença parasitária é caracterizada quando o parasita age de forma ofensiva no organismo provocando lesão e sofrimento tecidual. Todavia, não é interessante para ele provocar a morte do hospedeiro. Pois, conseqüentemente, estará provocando sua própria morte

A doença parasitária é um acidente que ocorre em conseqüência de um desequilíbrio entre o hospedeiro e o parasita. O grau de intensidade da doença parasitária depende de vários fatores, dentre os quais salientam: o número de formas infectantes presentes, a virulência (grau de periculosidade) da cepa, a idade e o estado nutricional do hospedeiro, os órgãos atingidos, a associação do parasita com outras espécies e o grau da resposta imune ou inflamatória desencadeada. (NEVES, 2005, p. 13)


A ação dos parasitas no hospedeiro pode se processar de várias formas; são elas: ação espoliativa, que ocorre quando o parasita absorve nutrientes e até mesmo sangue do hospedeiro (anóxia); ação tóxica, pois algumas espécies produzem enzimas ou metabólitos que podem lesar o tecido do hospedeiro; ação mecânica, devido a existência de algumas espécies que podem impedir o fluxo de alimento, do suco biliar ou a absorção nos nutrientes; ação traumática, que é provocada, principalmente, por formas larvárias de helmintos, embora vermes adultos e protozoários também sejam capazes de fazê-lo, por exemplo: migração cutânea, migração pulmonar e úlceras intestinais (Ancylostomatidae), lesão hepática pela migração da F. hepática jovem, o rompimento de hemáceas pelos plasmódium e etc. Além dessas, existe também a ação irritativa, que deve-se a presença constante do parasita que, sem produzir lesões traumáticas, irrita o local parasitado; e ação enzimática, que se processa quando o parasita utiliza enzimas para romper as barreiras físicas do hospedeiro. Por meio dessas ações infecciosas e das adaptações morfológicas e biológicas anteriormente citadas, o processo patogênico se inicia.
Por fim, medidas que nós - Estudantes e futuros profissionais da saúde - temos que praticar, em nossas vidas e na sociedade, para evitar, ou pelo menos, diminuir os riscos e controlar os índices de contaminação.
Medidas de prevenção primária - São ações que procuram evitar que o indivíduo suscetível entre em contato com os patógenos. Podem ser primordiais - ações que promovem a diminuição ou erradicação dos riscos de infecção - (moradia adequada, saneamento ambiental, incluindo saneamento de água, esgoto e coleta de lixo, educação ambiental, alimentação adequada e construção de áreas de lazer) e específicas - ações de proteção populacional contra os agentes etiológicos - (imunização, uso de equipamentos de segurança, uso de camisinha e proteção contra acidentes).
Prevenção secundária - São ações direcionadas a pacientes em fase clínica e subclínica da doença. Impedindo que a doença se desenvolva para estágios mais graves, não deixe seqüelas ou provoque morte.
E prevenção terciária - Entende-se por processo de reeducação e readaptação de pessoas acometidas por acidentes ou que estejam com seqüelas em decorrência de alguma doença. Inclui a reabilitação (impedir a incapacidade total), a fisioterapia, a terapia ocupacional, as cirurgias de reparo e a colocação de próteses.
Através de políticas de concientização da população que vive em áreas de risco e de educação ambiental, buscando prestar informações acerca de alimentação saudável, higienização e saneamento básico, os índices de contaminação poderão ter uma queda significativa em nosso país.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NEVES, D. P & Cols. Parasitologia humana. Ed. Atheneu, 11a ed, 2005. 495 pp.
REY, L. Bases da Parasitologia. Ed. Guanabara Koogan, 2a ed, 2002. 349 pp.
Imagens e Dados sobre Parasitas e Parasitoses e conteúdo de aulas
www.proto.ufsc.br/links.htm