segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Mudar? Pra que?"

Introdução
A mudança adaptativa é uma característica de todos os seres vivos. Pois, de certa forma, entre eles existe uma interdependência. As relações entre indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de espécies distintas são formas de manifestação dessa interdependência. O parasitismo é um tipo de relação interespecífica, na qual o parasita expressa uma dependência metabólica e estrutural do hospedeiro. Assim sendo, tanto o parasita quanto o hospedeiro têm que sofrer uma co-evolução, para minimizar os prejuízos que atingem ambos os elementos associados e permitir, em geral, que ambos vivam em equilíbrio e propaguem a espécie.
Visão Tradicional da relação Parasita-Hospedeiro
Teorias tradicionais afirmam que, com o decorrer do tempo, a relação entre o parasita e o hospedeiro vai se encaminhando para uma co-adaptação que resultaria em uma relação comensal, na qual parasita e hospedeiro viveriam em relativa harmonia, com um dependendo do outro para sobreviver. Para que isso ocorra, o parasita teria que atenuar seu grau de virulência. Permitindo que o hospedeiro sobreviva e evitando a extinção de ambos.
Essas co-adaptações estão relacionadas diretamente a alterações no código genético, tanto do parasita, quanto do hospedeiro. Ocorre uma comunicação bi-direcional entre as comunidades parasitárias e os sistemas adaptativos do hospedeiro (sistema imunológico, sistema nervoso e sistema endócrino), envolvendo ativação mútua de genes, bem como a troca de genes entre o anfitrião e o micróbio (TOSTA, 2001). Portanto, essa troca natural de informações genéticas é o que proporciona o equilíbrio da relação parasita-hospedeiro. Além de ser um dos fatores que contribuem para a diversidade, a adaptação e a co-evolução.
Visão Moderna da relação Parasita-Hospedeiro
Mas, existem teorias mais recentes, baseadas na medicina Darwinista, afirmando que a virulência do agente patológico é determinada pela relação entre os benefícios e custos associados ao aumento da exploração do hospedeiro, ou seja, a virulência é determinada pelo processo de conversão dos recursos do hospedeiro em produção e propagação de novos patógenos. Com esse pensamento, temos que a virulência , como uma vantagem evolutiva, depende do ciclo de vida natural do agente etiológico, da sua forma de transmissão e do tipo de reprodução, visando sempre a disseminação da espécie (STRUCHINER et. al., 2003)
Parasitas, como o agente etiológico da malária (Plasmódium), que são transmitidos por vetores artrópodes (insetos), relativamente, tem alto grau de virulência, pois para propagarem, necessitam da debilidade e falta de locomoção por parte do hospedeiro. O hospedeiro imóvel, provavelmente, será picado por insetos que, facilmente, disseminarão o parasita para outros indivíduos.
O mesmo grau de virulência é necessário aos parasitas, como o agente etiológico da cólera (V. cholerae), que tem a água como vetor. Além da virulência acentuada, é preciso também uma alta capacidade de reprodução, porque os organismos infectantes podem sofrer diluição na água. Para superar esse problema, a população de parasitas tem que ser muito densa e altamente virulenta. Aliado a essas características, o meio ambiente tem que apresentar precárias condições sanitárias. Com esses dois fatores associados, os parasitas têm grande possibilidade de contaminar outros indivíduos suscetíveis.
Já parasitas que são transmitidos da forma hospedeiro-hospedeiro ou hospedeiro-fômite-hospedeiro, como os do gênero Rhinovirus que causam o resfriado, não necessitam de alto grau de virulência. Pois o hospedeiro debilitado não pode disseminar os patógenos, que saem para contaminar os outros indivíduos durante os espirros e a coriza. Portanto, o grau de virulência mais baixo seria uma vantagem evolutiva neste caso (GIORGIO, 1995).
Conclusão
De acordo com o que foi exposto nas duas teorias, a co-adaptação existe para um melhor equilíbrio na relação parasita-hospedeiro. Os tradicionais interpretam a virulência como um estágio primitivo da evolução. E sugerem que a co-adaptação leva ao comensalismo. Enquanto isso, os Darwinistas vêem a virulência como uma característica evolutiva inerente a algumas espécies de parasitas. De fato, há evidências da coexistência dessas duas realidades. Logo, a relação pode evoluir para que o equilíbrio ocorra na forma de um comensalismo, ou, em alguns casos, há a possibilidade desse equilíbrio ser caracterizado por situações de relativa virulência para o hospedeiro.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
NEVES, D. P & Cols. Parasitologia humana. Ed. Atheneu, 11a ed, 2005. 495 pp.
GIORGIO, Selma. Moderna visão da evolução da virulência*. Departamento de Parasitologia, Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Campinas, SP - Brasil, 1995.
TOSTA, Carlos Eduardo. Coevolutivas Redes: uma nova estratégia para a compreensão das relações dos humanos com os agentes infecciosos. Vol: 96. (3), 415-425. Rio de Janeiro, 03 de abril de 2001.
FORATTINI, Oswaldo Paulo. O pensamento epidemiológico evolutivo sobre as infecções. Rev Saúde Pública 2001;36(3):257-62, 257. www.fsp.usp.br/rsp.
STRUCHINER, Claudio José; CODEÇO, Claudia; CARNEIRO, Mauricio. Bases Evolutivas da Saúde Pública, 21/06/2003. HTTP//:www.people.fas.harvard.edu~carneirlecturesbespbesp_intro.pdf. Visto em 11/02/2011, ás 22:59.

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